Tomar uma decisão pode ser mais fácil do que viver com ela.
— Então foi assim que eles fizeram. Um
trabalho genial... não vai ser fácil desfazê-lo.
E isso foi a última coisa que ele disse após
ouvir toda a história de como meus poderes foram selados. Desde então já se
passou uma semana e ele age como se nós nem existíssemos. Não sei dizer se é porque
ficou ocupado mudando a ilha de lugar, concertando a casa ou se simplesmente
não sabia o que fazer quanto a minha tatuagem.
Por sorte, antes de nos ignorar
completamente, ele nos apresentou os quartos e disse para repormos a energia.
Bom, mais fácil falar do que fazer. Não é exatamente fácil dormir na casa de
alguém em quem você não confia. Então nós acabamos ficando todos no mesmo
quarto, Vallery, Harvey e eu nos revezando em quem fica de vigia a noite. Já o
Duncan e o Z dividiram a cama de solteiro, a contragosto. E não acho que foi só
a falta de conforto que atrapalhou a descansar. Havia uma tensão no ar desde
que voltamos do paraíso.
E se outro anjo aparecer de repente? Como
teríamos qualquer chance contra ele? Zuhiel não estava errado quando disse que
comparado a eles somos bactérias. E, se um soldado comum tinha tanto poder, eu
nem quero imaginar o que um arcanjo poder fazer.
Mesmo não gostando da ideia de recuperar
meus poderes, não vejo a hora de isso acontecer. Preciso proteger minha família
e eu não posso desperdiçar o sacrifício do Gerard.
E quanto aos meus amigos? Durante o dia estavam
se ocupando com a exploração da mansão — mas eu deixei bem claro que não deviam
mexer em nada —, registrando o úmero de quartos, itens que pareciam ser de
valor e, procurando possíveis rotas de fuga.
Uma vez ladrões, sempre ladrões.
Contudo, o verdadeiro achado nessa
exploração foi a cozinha, que por algum motivo que não entendo. fica no
subsolo. Eu não tenho ideia se demônios precisavam comer, mas fiquei feliz pela
geladeira estar cheia. Não é como se eu pudesse sair da ilha para dar um
pulinho no mercado. Então estamos atacando os mantimentos dele durante esses
dias e, pela primeira vez em muito tempo tivemos o luxo de usar um fogão. Se
não fosse por estarmos metidos nessa guerra angelical e morando na casa de um
demônio sinistro, eu poderia até dizer que isso parece férias.
Quando não estávamos explorando a mansão,
acabávamos indo à praia. Duncan e o Z podiam sair correndo por aí sem se
preocupar, Harvey trouxe seu tabuleiro de xadrez e se reveza em nos derrotar e
a Vallery andava lendo bastante os quadrinhos do Z, que ela continua a insistir
em dizer que não gosta. Se eu tivesse trago alguma vara de pescar, poderia
ensinar os garotos. Não ouso me adentrar na floresta atrás da mansão, meus
instintos continuam a dizer que tem algo maligno por lá.
Nesse omento estou deitado na areia,
assistindo o Duncan e o Z apostarem quem consegue prender a respiração por mais
tempo, coisa normal para crianças, coisa que eu gostaria que eles pudessem
fazer mais. Vallery começa a caminhar na minha direção e eu sei que isso vai
acabar com a tranquilidade.
— Quando vai ser? — ela pergunta, de novo. Parece
mais ansiosa do que eu; — Eu não aguento mais esperar!
— Você deveria aproveitar enquanto pode —
respondo, sem qualquer animação. — Não dá para saber quando vamos poder relaxar
assim de novo.
— E eu lá quero saber de relaxar? Preciso
fazer alguma ou vou enlouquecer!
— E o que sugere?
— Eu estava pensando... não acho que ele vai
se importar se pegarmos umas armas emprestadas — ouvir isso me faz franzir o
cenho. — Você bem que podia nos ensinar a lutar com elas. Nós vamos precisar
aprender mesmo...
— Nem fodendo! Vocês não vão lutar! Viu o
que aquele cara podia fazer? Acha que quero vocês chegando perto de outro anjo?
— Lá vem você querendo bancar o protetor! —
ela revira os olhos. — Mas é ridículo! Você não é nosso pai e não pode decidir
o que vamos ou não fazer!
— Tem razão. Eu não sou pai de nenhum de
vocês. Sou apenas alguém que não quer vê-los morrendo!
— E acha que eu quero? É justamente o
contrário! — Vallery grita, alto o bastante para chamar a atenção dos outros. —
Se nós não soubermos nos proteger, as chances só aumentam! Já pensou no que vai
acontecer se alguém nos atacar e você não estiver perto?
— Eu... não sei, caralho! — não gosto nem de
pensar nisso e, perceber que ela está certa me deixa um tanto irritado. — Mas
sei que as chances de vocês precisarem lutar é bem menor se ficarem escondidos!
Essa luta não é de vocês! É minha!
— Que porra, Dy! Quando vai entender que
estamos juntos nisso? — Z se aproxima, com o semblante fechado.
— Nós te-temos isso! Po-podemos lutar junto
com vo-você — Duncan gira o punho, mostrando sua tatuagem.
— Está vendo? Eles decidiram por si mesmos —
Vallery sorri, vitoriosa.
— Porque eles ainda não têm idade para
entender o perigo! Aqueles caras não vão ter pena só porque vocês são crianças!
— Acha que não temos medo de morrer? — Z
pergunta, com uma expressão sombria. — Dy, todo dia a gente se metia em
encrenca e tinha de correr para não ser pego. Aquele cara no boco, poderia ter
nos matado se você não tivesse lá... e agora também, nós vimos o que aquele anjo
pode fazer, eu não acho que é uma brincadeira! Tudo que nós queremos é poder
lutar junto com você e te ajudar! Eu já cansei de fugir assustado! Não ligo se
sou uma criança, também não quero que você morra!
Isso me faz recuar, não esperava ouvir algo
assim — ainda mais vindo dele — e, ele parece ter certeza de cada palavra. Como
posso dizer não? Como proibi-los de fazer exatamente o que eu estou fazendo por
eles?
— So-somos uma família! Na-não se abandona a
família!
— Por acaso acham que estão num resort? —
Zuhiel surge a alguns metros de onde estamos, com um semblante sério. — Dá para
ouvir esses chiados sentimentais lá do meu quarto — ele olha em volta, como se
faltasse algo. — Onde está o outro? O mudo?
— Harvey está na cozinha. Fazendo o almoço —
Z responde, sem demonstrar qualquer medo.
— Não dei autorização para isso.
— E queria que fizéssemos fotossíntese? —
caminho até ele, sem paciência. — Você tem nos ignorado por mais de uma semana.
Nem sei onde estamos ou onde arranjar comida, já que nessa ilha não parece ter
qualquer animal ou fruta — isso parece ser o bastante para ele desfazer a pose
de controlador. — Não vou pedir desculpa por atacar sua geladeira.
— Que seja — ele dá de ombros, contrariado.
— Melhor que estejam prontos. Removerei essa sua tatuagem essa noite.
— Antes disso — digo, antes que ele possa
desaparecer de novo. — Quer explicar o que é isso?
Estendo meu braço para mostrar o símbolo que
foi queimado na minha pele.
— Interessante. É um símbolo enoquiano. Esse
aí representa a ganância.
— Um pecado capital... e se tem mais seis
selos...
— Presumo que haverá um símbolo para cada um
dos pecados, e juntos eles se tornarão a chave para desfazer os selos de
Mikael.
— Eu ia dizer que meu braço vai ser queimado
mais seis vezes — olho para a marca, com desgosto. — Mas é, isso aí também não
está errado.
— Duvido que já não tenha passado por coisa
pior — Zuhiel desparece novamente.
— O que não quer dizer que não doa para
caralho... — resmungo, mesmo sabendo que ele não está mais aqui para ouvir.
— E aí? Você vai continuar sendo cuzão, ou
vai deixar a gente aprender? — Vallery pergunta, com os braços cruzados.
— Já que não consigo botar juízo na cabeça
de vocês, vou ter que ter certeza de que podem se virar sozinhos — respondo,
com bastante dificuldade. — Mas antes de começar, vocês vão ter que prometer só
lutar se não tiver nenhuma outra escolha. Estamos entendidos?
— Prometemos! — Duncan e o Z
responderam ao mesmo tempo, cheios de animação.
— Se isso te faz se sentir melhor... eu
prometo — Vallery dá de ombros e depois simplesmente começa a caminhar de volta
para a casa.
— Melhor irmos também. Vamos ver o que o
Harvey está cozinhando — pego minha camiseta no chão e depois a sigo.
— Espero que seja melhor do que a sopa de
ontem — Z faz uma careta.
— Vo-você re-reclama de tu-tudo, Z.
Deixo os dois passarem na minha frente, dou uma
última olhada para o meu braço, para me despedir da tatuagem que me acompanhou
por quase uma década. E é justamente pensando em despedida que me lembro dos
últimos momentos com o espirito do Gerard. Não quando ele se sacrificou para
atacar o anjo, mas no paraíso. Ele falou sobre uma mulher de vestido branco.
Alguém que não só sabia dos meus poderes, mas como controlar os seus efeitos.
Preciso voltar na cabana, talvez tenha alguma pista.
Caminho até a mansão apressado e vou direto
até o quarto do demônio. Depois de uma semana aqui, estou aprendendo a andar
pelos corredores malucos e, também acho que posso sentir a energia dele.
— Eu quero visitar a cabana onde cresci. E
quero fazer isso antes de desfazer a tatuagem — digo.
— É uma péssima ideia.
— Escuta, eu concordei em condenar a alma
dele ao inferno, que meu pai teoricamente vai abrir os portões. Eu achei que
com isso poderia vê-lo de novo, até... dar um jeito de ele poder ficar, mas por
sua causa, ele teve de se sacrificar!
— Você quer colocar a culpa daquele fiasco
em mim? — ele ri. — Você foi avisado de que não estava pronto, não ouviu por
sua conta e risco.
— Pode até ser, mas o mínimo que você pode
fazer é me dar um tempo para me despedir dele, do meu jeito. Quero ver se a
cabana onde fui criado ainda existe, quero prestar minhas homenagens.
— Você quer prestar honras fúnebres a um
homem que já estava morto há séculos? Realmente não sinto falta do
sentimentalismo humano e, você deveria abandonar isso.
— Não, eu não vou. E essa é minha condição
para aceitar desfazer o selamento. Não vou desistir disso.
— Sua visita ao paraíso alertou todos os anjos
da sua existência, sair dessa ilha é uma péssima ideia.
— Você pode me esconder, do mesmo jeito que
esconde essa ilha.
— Que
assim seja — Zuhiel bufa, depois revira os olhos. — No entanto, devo alerta-lo
de que quando chegar a hora de treinar você e os seus amigos, farei com que se
arrependa disso.
— Não esperaria algo diferente de você.
— Duas horas. É todo o tempo que vou te dar.
— Já serve. Você tem que abrir algum portal
ou... — antes que eu consiga terminar a frase ele toca no meu ombro e logo
depois já não estou mais no quarto dele. — É, não vou me acostumar com isso.
Me surpreendo ao ver que estou de volta a
cabana onde fui criado e que ela está exatamente igual eu me lembro. Tem
bastante poeira acumulada, mas... está intacta tirando isso. Já tem mil anos,
isso não faz sentido. A essa altura alguém já teria a encontrado, seja para
usar de abrigo ou para destruir e construir outra coisa do lugar.
Caminho observando o lugar, procurando
sinais de armadilhas, mas não acho nada. Ao chegar no meu quarto a única coisa
que se sobressai é um bilhete: “sei que esse lugar é especial para você, então
o protegi, meu amado príncipe”.
A letra parece bem feminina e está escrito
em larvenês, agora eu não sei se é um sobrevivente do meu reino ou se é alguém
que estudou a língua. Eu acho que pode ser a tal mulher de vestido branco, mas
é difícil ter certeza a essa altura.
Respiro fundo e tento me concentrar. Eu vi o
Zuhiel fazendo isso uma vez, talvez eu também consiga. Estendo a mão, tento
extrair a tal magia profana da qual ele falou, quero tentar reproduzir o que
aconteceu aqui quando a mulher visitou. O problema? É que por mais que eu me
esforce nada acontece.
— Não adianta tentar reproduzir um feitiço
após vê-lo apenas uma vez — escuto alguém dizer, olho para a porta e tem um
homem alto, de cabelos castanhos, barba por fazer, olhos azuis e uma expressão
séria. Ele está vestindo uma camisa preta, jeans surrados e tem um lenço
vermelho amarrado no pescoço. — Até mesmo para um nefilim é necessário estudo e
prática. E é claro, não ter os poderes selados.
— Quem é você?
— Você é mais esperto que isso — ele sorri,
amigavelmente. — Sabe o que eu sou e porque estou aqui. Mas acho que você
queria isso, não é mesmo, Dymas Sinclair?
— Na verdade, não imaginei que encontraria
um anjo aqui. E muito menos que você se vestira de forma tão casual sem
armadura.
— O que estava esperando? Terno e gravata? —
ele ri. — Somos soldados, não funcionários de uma empresa burocrática.
— Não foi o que pareceu quando eu estive na
sua casa.
— Interessante, na verdade. Sempre me
perguntei olhos mortais veriam — ele leva a amo ao queixo. — Depois você tem
que me contar tudo sobre o que viu ou ouviu. No entanto, agora acho que temos
outros assuntos a tratar.
— Não quero ser mal educado, mas... pensei
que estava oculto para vocês. Realmente não estou pronto para outra luta no
momento.
— Para sua sorte, nem eu. Ainda estou me
recuperando do ataque do seu mentor — ele levanta a camisa e vejo um ferimento
aberto reluzente em seu abdome, mas noto que ele não tem umbigo. — E aliás, foi
checando o arquivo do seu mentor que descobri esse lugar. As outras descobertas
já foram mais complicadas. Encontrar pessoas que você conheceu e que podiam me
dar pistas não foi fácil. Mil anos é muito tempo para filtrar...
— Ah, lamento por ter te dado trabalho. Mas
e agora que está aqui? O que você quer? Se fosse me matar...
— Depois de te estudar bastante, cheguei à conclusão
de que você é só um cara no lugar errado e na hora errada. Ainda pode sair
dessa.
— Quer se explicar?
— Você teve uma vida difícil, já passou por maus
bocados, já feriu muitas pessoas, mas no geral, costuma estar do lado certo.
Ainda não é tarde para sair desse caminho. Você rompeu apenas um dos selos, não
precisa romper o resto. Pode ter sua vida de volta.
— Deixe-me adivinhar, essa é a parte que você diz:
“se não...” — apesar de saber que não posso derrotá-lo, não pretendo deixá-lo
me intimidar.
— Você está entendendo errado — ele balança a cabeça
negativamente. — Estou aqui para tentar ajudá-lo. Quero resolver as coisas sem
que mais ninguém saia ferido. Ninguém precisa acabar como o Gerard. Ele era um
bom homem, e eu lamento o destino que ele teve.
— Cale a boca! — levanto o tom de voz. — Você não
sabe nada sobre ele. E se não tivesse ido atras de nós, nada daquilo teria
acontecido.
— Realmente, você só teria mandado seu mentor para o
inferno — sua voz é pura decepção. — Olha, eu tenho de cumprir ordens, como
todos os outros anjos. Mas, eu sou o anjo da misericórdia. Estou buscando um
caminho melhor.
— E que ordens são essas? Me matar?
— Antes, precisamos conversar. Você pelo menos deveria
considerar o que tenho a dizer.
— Conversar, sei... você quer me dissuadir, isso
sim.
— Sim. Quero te falar sobre o apocalipse e, te
explicar por que é melhor deixar seu pai onde está.
— Ah, eu conheço essa história, já li sobre ela em
diversas versões e livros diferentes — ele quase me faz querer rir. — Você vai
querer me falar das vidas que serão perdidas, do inferno que o mundo pode se
tornar, do que pode acontecer comigo ou com os meus amigos... — aponto para
ele, com meus olhos brilhando. — Mas quer saber? Eu até posso considerar mudar
de ideia. E só você me responder onde estavam os anjos nesse tempo todo. Sério,
em quase mil anos você é o primeiro anjo que eu vejo. Imagino que vocês
deveriam ter algo muito mais importante para fazer do que ajudar a porra do
mundo!
Por um momento ele engole em seco, parece ficar sem
resposta, como se essa questão nunca tivesse passado pela sua cabeça.
— Isso é... os anjos seguem ordens... nós não... não
podemos interferir no livre arbítrio... tudo segue... — é estranho ver alguém tão
determinado a um minuto atrás parecer tão confuso com uma só pergunta.;
— Se você disser “os planos de deus”, vou ter que
socar a sua cara.
— Escuta, eu lamento que as coisas sejam assim,
mas... nós lutamos pelo equilíbrio...
— Não sei por que ainda estou te ouvindo — o
interrompo, cansado. — Você é só mais um soldado com fé cega. Sequer questiona
se o que está fazendo é certo. Vocês anjos são um bando de hipócritas — sinto
uma intensa raiva tomar conta de mim, a ponto da minha aura ficar vermelha e
fazer o ar ao meu redor vibrar. — Se vocês não podem intervir para ajudar,
também não devem intervir na minha decisão de soltar meu pai. E, para ser
sincero, acho que vocês merecem tudo que vai acontecer daqui para frente.
— Você deveria reconsiderar — ele responde, num tom
entristecido. — Existem aqueles no paraíso que desejam o apocalipse. E, é só
por isso que te deixaram vivo até agora, garoto. Você acha mesmo que o filho de
Lúcifer teria passado despercebido? Que os arcanjos simplesmente ignorariam a
sua presença? Depois que libertar seu pai o seu papel terá sido cumprido...
você e seus amigos...
— E qual a diferença então? Se eles me deixaram vivo
para isso, me recusar significa que perco a utilidade — Zuhiel deixou de
mencionar essa parte, não acho que tenha sido de propósito. — A meu ver, minha
única escolha é lutar ao lado do meu pai.
— Lamento que seja essa sua decisão — ele se levanta,
na mesma hora o bar é tomado por uma intensa luz branca. — Ainda existem
aqueles no paraíso que não querem nada disso. E mata-lo é a nossa única saída.
— Então veio mesmo tentar me matar — apesar de me
sentir diminuído pelo poder que está ao meu redor, não vou abaixar a minha
cabeça, não para esse cara.
— Eu não, o arcanjo que me mandou, sim — a luz se
tornou forte demais para que eu manter meus olhos abertos. — Se sobreviver e
encontrar a razão, basta chamar meu nome, Zadiel.
O lugar então é tragado pelo fogo vivo — o mesmo
tipo que destruiu a Larvênia — e, eu não posso fazer nada para impedir.
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