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Herdeiros do Caos - O Lamento do Príncipe capítlo 4

 Por mais que uma situação esteja ruim, ela sempre pode piorar.

 

Depois de tantos séculos, é a primeira vez que encontro alguém que sabe sobre meu passado. Depois da destruição da Capital, a Larvenia acabou sendo esquecida pela história e seu território anexado por outro país. Minha existência deveria ter sido esquecida.

Os olhos amarelos dele me encaram de forma ameaçadora, fico paralisado por alguns segundos, sem saber o que dizer. As pessoas voltam a caminhar normalmente — incluindo os policiais entrando e saindo da delegacia —, ninguém parece reparar nessa figura destoante e sinistra, chego a questionar se ele está mesmo qui ou se eu estou alucinando.

— Não sei quem é você, mas acho que se confundiu — meu cigarro até se apagou, quando enfim recupero a voz.

— Pode se fazer de desentendido, ou me escutar — a voz dele é grossa, mas tem uma calma assustadora. — Isto é, se quiser mesmo ajudar a sua amiga na cadeia.

— E o que você pode fazer sobre isso?

— Não acho que esse seja o lugar certo para uma conversa com a realeza — ele enfatiza demais o meu status perdido, apenas para provocar.

Os dedos dele estalam, antes do som chegar aos meus ouvidos já estamos em outro lugar, um muito familiar.

— Creio que você reconheça as ruinas — ele começa caminhar, a poeira se levanta e gruda nos sapatos caros. — Afinal, foi você o responsável por elas, majestade.

— Pare de me chamar assim!

Ser chamado dessa forma me irrita muito mais do que todos os apelidos que as pessoas inventaram para mim ao longo dos séculos. Eu deixei de ser da realeza quando destruí o meu reino, não tenho direito a isso.

— Como quiser — ele dá de ombros, como se não se importasse com o título, mesmo tendo o repetido várias vezes.

Ele caminha até o que parece ser o teto de uma casa em meio aos escombros, depois se senta, sem se importar com a sujeira.

— Por onde devemos começar, Dymas? Temos muito a discutir e mais ainda o que fazer a partir de agora.

— Comece pelo seu nome e o que você é — ordeno. Quando se vive tanto quanto eu, o sobrenatural acaba deixando de ser lenda. Acabei esbarrando com diversas criaturas, semideuses e diversos tipos de malucos com poderes. Eu sei reconhecer quando o que está na minha frente vai além do que meus olhos podem ver. Se ele queria me surpreender de alguma forma, falhou. — Não é a primeira bizarrice que eu encontro — acrescento. — E sei quando alguém está tentando me manipular.

— Você tem os olhos do seu pai — o comentário me pegou de surpresa e ele percebe. — Tudo em você me lembra ele. O cabelo, o rosto, seu jeito de falar... — ele faz uma pausa, me analisando. — É claro que estou falando do seu pai de verdade. Não daquele rei mesquinho que deixou seu reino a beira da morte.

O dedo dele aponta para algum ponto da cratera e eu vejo a poeira se abrir até uma estátua do Rei Lenos surgir, intacta. Eu a observo. Ela é feita de bronze, mas todas as suas características estão bem detalhadas — os cabelos longos, o queixo quadrado, o físico imponente, a feição séria —, mesmo assim, eu simplesmente não consigo me ver nele. Acho que nem se estivesse cara a cara sentiria algo pelo meu suposto pai.

— Conta outra — repondo, fingindo não me importar, como se essa não fosse a resposta que eu vinha buscando a vida toda. — A essa altura, eu já teria descoberto se tivesse outro pai.

— Eu sei que você procurou. Nos lugares errados, infelizmente. Eu andei estudando sua trajetória, devo dizer que é impressionante.

— Se sabe quem eu sou, e o que eu já fiz, não acha que deveria ficar com medo de mim? — meus olhos brilham enquanto me aproximo. —Se tem algo para dizer, é melhor ser rápido.

— Você com certeza é bom em blefar — ele aplaude, cheio de falsidade. — Sabe tanto quanto eu que seus poderes estão selados, ou pelo menos a maior parte deles.

Meus olhos se apagam e engulo em seco. Como ele poderia saber disso? Não. Como ele poderia saber onde eu já estive ou que fiz? Nunca fiquei muito tempo em um lugar só... a maioria das pessoas que já conheci estão mortas... não estou gostando disso.

— Não me olhe assim — ele pede. — Conhecer o meu alvo é uma parte importante antes de oferecer o contrato. Mas devo dizer que já aprontou muita confusão por aí. O que aconteceu naquela ilha... seu pai ficaria orgulhoso.

Meu corpo fica tenso, meus músculos enrijecessem e meu coração congela. Ele sabe demais. Sabe da ilha! Eu quero matá-lo agora mesmo, mas meus instintos me dizem que não conseguiria.

Quem é você?!

— Meu nome é Zuhiel — ele se curva levemente para fazer uma reverencia. — Sou conhecido como o Demônio das Transações. Sou aquele que oferece uma saída para decisões dificieis, como as que você terá de tomar a partir de agora.

— Um demônio? Cadê seu rabo e os seus chifres? Deixou no outro terno?

— Não sou esse tipo de demônio — ele revira os olhos. — Para alguém que viveu tanto, sua visão é limitada. Terá que mudar isso.

— Eu não tenho que fazer nada! É você quem precisa se explicar! — exijo. — O que um demônio quer comigo? Vai me dizer que meu pai é o Diabo;

Fiz a pergunta para encerrar a conversa o quanto antes. A situação da Vallery é a minha prioridade no momento. Mas o jeito que ele está me encarando... chego a pensar que acertei no palpite.

Precisamente — Zuhiel responde, sem muita emoção. — Seu pai é, de fato, o Diabo.

Eu quero dizer que é mentira. Mas não posso. Sempre sei quando as pessoas mentem e isso vale até mesmo para criaturas mágicas que já conheci ante, não acho que demônios seriam exceção. Não é como se eu pudesse ler a mente das pessoas, mas quando alguém mente na minha frente sinto como se um alarme começasse a soar na minha cabeça. E com esse cara... nada.

Ele acrescenta:

— Creio que ele prefira ser chamado de Lúcifer. Soa menos... diabólico

— Isso é... ridículo!

Balanço a cabeça em negação. Não posso acreditar que a resposta que procurei a vida toda pudesse ser jogada diante de mim com tanta simplicidade. Eu teria descoberto — passei séculos pesquisando, estudando, fazendo testes —, se essa fosse a minha origem, eu saberia.

— E isso faz de mim o que? Meio-demônio? — foi justamente disso que o bispo me acusou quase um milênio atras e eu sempre duvidei das palavras daquele homem. — Está dizendo que devo aceitar que as pessoas que tentaram me queimar vivo estavam certas?!

— Um nefilim — ele corrige. — Para ser mais exato. Seu pai é um arcanjo, não um demônio, apesar do que dizem por aí   — ele estende a mão, uma esfera brilhante surge. Fico confuso, ao menos até ver as imagens dentro dela. — Veja por si só.

As imagens na esfera parecem retroceder no tempo, até mesmo a destruição da capital endo revertida, vejo a mim mesmo caminhando pelas ruas, depois como a capital se tornou um lugar ainda pior sob o comando daquele bispo, em seguida a rebelião que matou a minha mãe, cheguei a ver o Gerard escapando do palácio. Elas só para de retroceder quando mostram um homem — muito bonito, de cabelos longos e do mesmo tom de branco que o meu — voando com três pares de asas douradas. A partir de então é como se eu estivesse assistindo a um filme mudo.

— Esse é o seu pai, Lúcifer — Zuhiel diz, enquanto o observamos se aproximar do palácio.

 

 A imagem se aproxima dele, Lúcifer está usando roupas mais comuns do que eu esperaria para o diabo, nada além de uma túnica preta com ornamentos vermelhos e uma ombreira de um metal rubro. Quando vejo seus olhos percebo que são ainda mais vermelhos que os meus, consigo ver uma certa semelhança no rosto dele e isso me assusto. Quando o rei Lenos aparece de repente a esfera começa a reproduzir sons. Ao ver a conversa deles, finalmente entendo o que aconteceu com a Larvenia.  Lúcifer se aproveitou das inseguranças do rei e o manipulou. As pragas que atingiram o reino, foram de fato minha culpa, eu era mesmo uma criança amaldiçoada.

Quando Lúcifer se aproxima da minha mãe sou obrigado a desviar o olhar. É repugnante a forma como vim ao mundo. Os dois a usaram, ela sequer sabia no que estava se metendo quando se deitou com o Diabo em pessoa. Mas o Rei Lenos tinha total conhecimento e eu o odeio por isso.

Lúcifer — meu pai, jamais vou me acostumar com isso — vai embora pouco depois daquela cena grotesca. Ele voa para longe do castelo e enfrenta alguns anjos que urgiram no caminho. Ele os derrota facilmente. Fico impressionado com sua força e quase achei que ele ia conseguir se safar do que fez.

Outro anjo surge, um com o mesmo número de pares de asas que o Lúcifer. Eles estão conversando, mas a esfera não está mais transmitindo o som, seja o que for, Zuhiel não quer que eu saiba. Só sei que esse outro anjo não só consegue derrotar o Lúcifer, como também o aprisiona em um tipo de flor mística e vai embora logo depois.

— Que tipo de feitiçaria é essa? — é tudo que consigo perguntar quando a esfera se desfaz na mão dele.

— Só um pouco de Magia Profana — o termo não é novo para mim. — Ela me permite ter acesso as memórias que marcaram essa terra. É ainda mais fácil se essas memórias estiverem cheias de sentimentos negativos: dor, morte, raiva, ódio... milhares de pessoas sendo queimadas vivas em um instante... — a última parte faz meu estomago revirar. — Se quiser, podemos ver de novo quando eles tentaram te queimar vivo.

Sinto vontade de socá-lo pela sugestão. Contudo, agora eu sei como ele descobriu sobre mim e a minha origem. Não foi por descuido meu, não tinha nada que eu pudesse fazer para impedi-lo.

— Então você tem viajado pelos lugares onde eu estive e usado essa coisa?

— Algo assim — ele esconde algo, disso eu tenho certeza. — Devo confessar que, até recentemente, eu não tinha interesse algum em você ou no seu pai — se ele queria me confundir ainda mais, conseguiu. — Então tive de gastar algum tempo fazendo meu dever de casa. O que não foi muito fácil... você tem se movido bastante ao longo dos séculos.

Ele se levanta, bate no terno para afastar a poeira, mas de nada adianta. Pra que diabos ele foi se sentar? Será que até isso faz parte do jogo dele de me confundir?

— Não entendo. Pensei que os demônios fossem servos de Lúcifer... então isso que você disse não faz sentido.

— Não vim até aqui para falar de mim. Meus motivos são só meus — ele começa a caminhar entre os escombros e eu o sigo a contragosto. — Como viu, seu pai está preso.  E somente você pode libertá-lo. É por isso que estou aqui. Temos até o alinhamento milenar no sétimo dia do sétimo mês do sétimo ano desse milênio. Ou seja, menos de um ano para quebrar os selos da prisão e te deixar pronto para a guerra que está por vir.

Eu começo a rir. É loucura, tudo isso só pode ser insanidade. O fato de ele não estar mentindo não torna essa porra de situação menos maluca. E isso que ele quer de mim? Se ele acha que tem alguma chance de ajudá-lo, é porque não entendeu direito o que viu nas lembranças dos lugares onde eu fui.

Nós não temos que fazer nada. Acha que vou te ajudar a libertar o Diabo na Terra? Sem chance.

Não digo isso por causa do que ouvi sobre ele nas histórias ou por causa de profecias apocalípticas. Tomo essa decisão exclusivamente pelo que ele fez com minha mãe. Não posso perdoá-lo por isso.

— Ele pode até ser meu pai biológico — continuo a dizer, já que ele não esboçou uma resposta. — Mas tratou minha mãe como moeda de barganha. Corrompeu um homem bom e nem se importou com o que ele faria com o reino. Quebrou a parte dele no acordo quando deixou a Larvênia sucumbir, não foi? Então eu não me importo nem um pouco se ele vai passar toda a eternidade preso.

— Você está errado. É fácil culpá-lo por tudo. Seu pai não é a mais doce das criaturas e nunca tentou disfarçar isso.

Ele estala os dedos mais uma vez, mas ao invés de mudarmos de lugar novamente, dezenas de painéis começam a surgir mostrando cenas de sofrimento humano — guerras, pessoas morrendo por fome, doenças, a crueldade, violência, abusos físicos e psicológicos, crianças que não chegam à idade adulta pela miséria e muito mais.

— Mas está vendo tudo isso? Cada imagem que te mostrei aconteceu depois de ele ser aprisionado. Você já viu isso com os próprios olhos! — apenas concordo com a cabeça. — Você sabe o quanto os humanos vêm sofrendo, o quanto estão se aproximando de destruir uns aos outros e que isso nem sempre tem um motivo. E onde o seu pai esteve esse tempo todo? Hmm? Quem é que tem o poder de impedir tudo isso, de protegê-los, mas não fizeram nada?! Mikael e seu exército de anjos!

É a primeira vez que vejo a expressão dele mudar, como se fosse tomado por uma fúria incontrolável ao falar disso. Eu compreendo, poderia muito bem concordar, sabendo os anjos realmente existem. Mas sinto que tem algo estranho no discurso, como se as emoções não fossem dele.

— Eu já disse. Sei quando alguém quer me manipular. Não vou cair nessa. Se tem uma coisa que eu sei é: tudo pode sempre piorar. Então é melhor que meu pai fique quietinho onde está. Os anjos podem até negligenciar o mundo humano, mas acho que isso é melhor do que se resolvessem travar uma guerra aqui.

Foi a primeira vez que me referi ao Lúcifer como pai e isso pareceu... certo. Não sei como me sentir sobre isso.

Interessante. Consegue aceitar tranquilamente que ele é seu pai. Mas não sente vontade nenhuma de ajudá-lo?

— Eu sempre sei quando alguém mente — dou de ombros e começo a caminhar para longe dele. — Então é, o meu pai é Diabo, grande coisa. Me virei muito bem sem ele até agora. Posso continuar assim,

Olho mais uma vez para os escombros — a marca do meu crime — e suspiro, sabendo que tudo isso poderia ter sido evitado se o Rei Lenos tivesse tomado a decisão certa e rejeitado o acordo. É claro que meu pai teria ido em busca de outro, mas aí, não seria eu a nascer e o sangue de tanta gente não estaria em minhas mãos.

— Se já acabou — digo, me virando de novo para ele. — Que tal me levar de volta? Alguém com quem me importo de verdade precisa de ajuda.

— Não quer nem ouvir o que vou propor em troca de ajudar o seu pai?

— Não importa — respondo na mesma hora. — Ajudar a Vallery a sair da cadeia não vale o resto do mundo.

Os músculos dele se tencionam, acho até que ele quer me bater, mas depois de respirar algumas vezes volta a ter a expressão indiferente de antes.

— Se é o que deseja, pois bem — ele desaparece por um instante e reaparece bem do meu lado. — Sei que mudará de ideia — ele acrescenta, perto demais da minha orelha. — Quando isso acontecer, basta dizer o meu nome.

Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, ele havia sumido e eu estava de volta a delegacia, como se nem sequer tivéssemos saído de lá. Quase penso que isso tudo foi coisa da minha cabeça, mas não acho que eu seja criativo a esse ponto.

Fiquei tentado a refletir sobre todas as novas informações, mas tenho problemas reais esperando por mim.

— Que se foda! — digo para mim mesmo antes de começar a andar.

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